MÁRGENES / WORK EXPANDIDO

web WORK EXPANDED.jpg

Como parte del trabajo de lxs residentes del programa RAW Crítica e Investigación, este año sumamos este espacio dedicado a la publicación de textos críticos producidos durante su paso por Doclisboa, Doc's Kingdom y Festival Márgenes. Bajo la forma de ensayos breves, reseñas personales y diarios de visionado, estos textos reflejan el trabajo sobre la marcha de la crítica en vivo, entre sesiones y de festival a festival.

Sonhos a queimar tua TV.png
Sonhos a queimar tua TV: homenagem a David Lynch e Robert Wilson

por Gabriel Linhares Falcão



Com a saturação de seus próprios códigos e intensas batalhas intelectuais com os materialistas marxistas, o surrealismo via seu desgaste se confirmar. No cinema, a dominação realista e industrial demarcou o triunfo da metonímia e da sincronia entre imagem e som. Os elementos em cena compartilham a contiguidade espacial, sem metáforas e simbolismos, as leis da verossimilhança são respeitadas, e a indústria define suas leis estéticas sem grandes impasses.

Na literatura, surrealistas veem seus ideais em outros procedimentos de realização poética, acompanhados de um interesse crescente ou ressarcimento total dos pivôs dos estudos psicológicos, como Freud e Jung, levantando um duelo entre a loucura descentralizada e as órbitas do Eu. A escrita automática se faz para muitos destes como opção ainda eficiente no alcance de novas percepções que burlam a apreensão realista, combinando devaneios, símbolos, psicologismos, etnografia, diferentes estilos de escrita e, quiçá, a idealizada aproximação com os sonhos nos estados entre a vigília e o sono. De maneira mais orgânica e menos codificada, expressam-se por meio de fluxos de consciência e inconsciência. No cinema, o impacto dessa virada pode ser percebido especialmente na transição da narração surrealista e psicodramática em terceira pessoa, como nos filmes dirigidos e atuados por Jean Cocteau e Maya Deren em papeis sonâmbulos, para o filme lírico em primeira pessoa. A minimização de câmeras e a ampla distribuição dos equipamentos como formato caseiro foram a base contextual para essa transição. 

O cinema experimental apresenta vias possíveis para a superação dos códigos oníricos preestabelecidos e uma nova porta é aberta para a realização radical e independente. Um filme como Anticipation of the Night (Stan Brakhage, 1958), exibido no 25º Doclisboa, demonstra como a aproximação do olho ao viewfinder e da câmera como extensão do corpo corresponde de maneira similar a aproximação do texto ao fluxo mental por meio da escrita automática. Mesmo por um procedimento que constroi por repetições conscientes de imagem, ritmo silencioso elaborado a partir da musicalidade visual, obscurecimento do corte por meio da união de movimentos na montagem e estabelecimento de tensões e paralelismo, somos imersos enquanto espectadores em uma narrativa que flui como um contingente fluxo de inconsciência, repetindo padrões e decepções na falsa promessa de uma infância aperfeiçoada por vir. 

Não se pode nunca voltar atrás, nem mesmo na imaginação. Depois da perda da inocência, somente o conhecimento total pode nos compensar. Mesmo assim, sugiro uma busca de conhecimento fora da língua, baseada na comunicação visual, solicitando a evolução do pensamento ótico e confiando na percepção no sentido mais profundo e original da palavra.

Stan Brakhage em "Metáforas da Visão"



Notas sobre a cronica como formato cinematografico.png
Notas sobre a crônica como formato cinematográfico: Bamssi e as jornalistas de Metran men hada-al turab

por Gabriel Linhares Falcão


Já no início do século XX, uma série de escritores, de poetas a romancistas, refugiou-se no formato da crônica. Breve, imediato, diretamente ligado ao periodismo da imprensa, permitia a constância laboral e aproximava o fazer artístico do ato de reportar. Em um momento em que líderes artísticos como André Breton manifestaram que a arte deveria abalar a noção de futuro, a realidade se adiantou e abalou-a antes do artista, com duas guerras mundiais em um curto intervalo de tempo. A crônica, por sua urgência, permitia que o artista reagisse de maneira ágil ao contexto, sem deixar que o impulso romântico fosse tomado por assalto. Diferentemente do jornalista, o papel do cronista é dar e encontrar a forma, além de reportar, encontrando assim uma interseção artesanal entre os ofícios jornalísticos e artísticos por meio da transmissão de experiências. 

O volátil formato da crônica abrange uma gama de possibilidades, assim como refugiados de diferentes nascentes literárias. Encontram ali um lugar tanto os artistas que suprimem a realidade em prol de uma liberdade alcançada por outros âmbitos de percepção, quanto os que mergulham de cabeça contra o abalo da realidade, provendo novas formas de apresentá-lo, pensá-lo, reconduzindo assim seu impacto. Sua periodicidade e brevidade permitiam que os escritores dessem distintos passos a cada publicação, firmando-se como importante espaço de experimentação.

No cinema, é um tanto lógico aproximar a ascendência da crônica ao componente documental do meio. São exemplos os breves noticiários Kino-Pravdas de Dziga Vertov, os curtas de Charles Chaplin ainda bastante improvisados e preocupados com as mais baixas classes, os documentários poéticos por vezes comissionados de Jean Epstein, Humberto Mauro, Eugène Deslaw, Oskar Fischinger, Horacio Coppola – sem considerar a abertura neorrealista ao documental em diferentes cantos do mundo e as particularidades dos países subdesenvolvidos, em que a industrialização ocorreu tardiamente, tendo muitas vezes as ruas como espaço de encenação em vez dos estúdios.

A crônica parece fazer mais sentido no meio cinematográfico à medida que os equipamentos utilizados permitem uma maior agilidade de finalização laboral, acompanhando a minimização das câmeras caseiras em filme às portáteis e atuais câmeras digitais. Almeja-se a velocidade de reportagem da caneta e do papel, assim como a imediata publicação. A escrita fílmica se dá, então, por aquilo que há próximo à mão.

Sobre márgenes

Márgenes es un espacio de exhibición y distribución de cine independiente y de marcado carácter autoral e innovador. Un proyecto poliédrico que incluye el Festival Internacional de Cine de Madrid, el laboratorio de desarrollo MÁRGENES/WORK, la distribuidora Márgenes Distribución y nuestra plataforma VOD.
saber más

Contáctanos

España

Plaza de Callao, 1 - 28013 Madrid
+34 915 238 295
Este sitio web utiliza cookies para mejorar tu experiencia. Saber más »